Em uma sociedade que se pauta pela democracia, o historiador e sociólogo Lucas Pedretti chama atenção para uma realidade preocupante que se estende desde o período do regime militar até os dias atuais: a violência de Estado continua a ser uma presença constante, particularmente contra as populações negras e pobres. Em sua obra recente, A transição inacabada: violência de Estado e direitos humanos na redemocratização, publicada pela Companhia das Letras, Pedretti oferece um olhar crítico sobre como a sociedade brasileira tolera e até mesmo ignora essa violência.

Legado de Violência e Indiferença

A história do Brasil é marcada por episódios de violência extrema, desde o genocídio indígena na colonização até a exploração de pessoas escravizadas por mais de três séculos. Esta trajetória de brutalidade se estendeu pelo regime militar, com indígenas e camponeses mortos em conflitos relacionados à terra. Essas mortes, embora documentadas em relatórios oficiais como os da Comissão Nacional da Verdade, ainda não recebem a atenção e o repúdio que merecem.

A Democracia e a Aceitação da Violência

Pedretti argumenta que a democracia brasileira não apenas tolera, mas aceita a violência de Estado, especialmente contra a juventude negra periférica. Esta aceitação reflete uma valoração diferenciada de vidas, onde algumas são consideradas mais dignas de luto e justiça do que outras. O autor questiona a ausência de comissões da verdade e políticas de reparação voltadas para as vítimas da violência policial e outras formas de repressão estatal que continuam a ocorrer no período pós-1988.

A Política de Repressão e o Silêncio

A discussão sobre a Chacina de Acari e a falta de medidas de reparação para casos similares ilustra como a violência do Estado é normalizada, especialmente quando dirigida contra comunidades marginalizadas. Pedretti aponta para a necessidade de reconhecer e combater essa realidade, desafiando a sociedade a reavaliar suas percepções sobre violência, justiça e direitos humanos.

A Impunidade e a Autonomia Policial

Refletindo sobre a recente Operação Verão na Baixada Santista e outras intervenções policiais marcadas por altas taxas de letalidade, Pedretti estabelece uma conexão direta com práticas instituídas durante a ditadura. Tais operações, segundo ele, são amparadas por uma lógica de desumanização de determinados grupos sociais, o que justifica, aos olhos de muitos, ações estatais desproporcionais e violentas.

Com informações da Agência Brasil