No dia 29 de julho de 2025, os Estados Unidos anunciaram a restrição do acesso global aos dados meteorológicos provenientes de seus satélites militares do programa DMSP (Defense Meteorological Satellite Program). Embora a decisão tenha sido parcialmente revertida após pressão de cientistas e agências internacionais, o episódio revela uma realidade incômoda: o Brasil é altamente dependente de sistemas e dados estrangeiros para o monitoramento de fenômenos climáticos extremos, o que compromete sua capacidade de antecipação, resposta e proteção populacional.
Essa dependência não é apenas um detalhe técnico. Ela é um risco à segurança nacional, à soberania civil e à resiliência da população diante de um cenário global cada vez mais marcado por colapsos climáticos, energéticos e institucionais.
1. A meteorologia como infraestrutura crítica de segurança
Dados climáticos são essenciais para:
- Emitir alertas de enchentes, ciclones, secas e tempestades severas
- Planejar evacuações urbanas e rurais
- Proteger lavouras, rebanhos e infraestruturas de abastecimento
- Preparar sistemas de resposta da Defesa Civil e das Forças Armadas
- Garantir segurança alimentar e energética em territórios vulneráveis
No entanto, mais de 70% dos dados utilizados por instituições brasileiras de meteorologia e defesa civil provêm de redes internacionais, principalmente dos EUA, Europa e Japão. Em caso de corte, atraso ou censura desses dados, o país entra em “apagão preditivo”, ficando cego diante de ameaças que exigem horas de antecipação.
2. Dependência estrangeira é vulnerabilidade estratégica
A decisão unilateral dos EUA expõe um ponto fraco do Brasil: não termos satélites próprios em quantidade e capacidade suficientes para suprir nossas necessidades.
- O Brasil opera poucos satélites meteorológicos com resolução adequada para emergências regionais
- A cooperação com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) é limitada por orçamentos e politização
- As universidades e institutos federais sofrem com cortes e sucateamento
Em tempos de crise climática, isso significa que a população brasileira pode demorar mais a receber alertas, pode confiar em previsões menos precisas e pode ficar exposta a fenômenos naturais que poderiam ser mitigados com planejamento.
3. O impacto prático na vida do cidadão comum
Quando dados são limitados ou imprecisos:
- Agricultores não conseguem planejar colheitas ou proteger lavouras
- Cidades não conseguem antecipar enchentes ou deslizamentos
- Famílias não são orientadas com antecedência sobre riscos
- Sistemas de transporte, energia e abastecimento não conseguem se reorganizar preventivamente
Ou seja, a dependência de dados climáticos estrangeiros não é um problema técnico. É um risco direto para a vida e a propriedade de milhões de brasileiros.
4. A missão dos preparadores: construir autonomia local
O movimento de preparação civil no Brasil precisa reconhecer que conhecimento meteorológico é ferramenta de sobrevivência.
Por isso, defendemos:
- Capacitação popular em leitura empírica do clima (nuvens, vento, umidade, pressão)
- Uso de sensores alternativos, pluviômetros manuais e apps offline
- Monitoramento comunitário por redes de vizinhança resiliente
- Treinamento em sinais de alerta naturais e técnicas de evacuação rápida
- Planejamento local com base em histórico regional de eventos extremos
A preparação civil climática não pode mais depender exclusivamente do Estado nem de plataformas estrangeiras. É hora de construir inteligência climática local, adaptada à nossa realidade.
5. Soberania começa com infraestrutura de dados
Assim como soberania alimentar depende de quem planta, soberania climática depende de quem observa, processa e compartilha os dados.
O Brasil precisa:
- Retomar o investimento em tecnologia nacional de satélites e sensores terrestres
- Criar uma rede de dados climáticos descentralizada, com participação de universidades, institutos e comunidades
- Incentivar o uso de tecnologias livres, plataformas de código aberto e redes federadas de previsão
- Estabelecer protocolos comunitários para tomada de decisão com base em sinais locais
Enquanto isso não ocorre em escala nacional, cabe aos cidadãos conscientes se organizarem para compensar essas deficiências com preparo técnico, comunitário e adaptativo.
A preparação climática é a nova defesa civil
O episódio envolvendo os EUA é um alerta claro: dados climáticos podem ser armas geopolíticas. E quem depende deles sem autonomia, está vulnerável.
Para os Preparadores, esse cenário reforça nossa missão: formar uma população preparada, resiliente e estrategicamente consciente. Isso passa por aprender a ler o céu, ouvir o solo, entender os ventos e construir respostas locais para crises globais.
Preparadores Brasil Informação, Consciência e Estratégia para um Brasil mais resiliente. [Link para o grupo de WhatsApp: https://chat.whatsapp.com/Drczmp0hfs0CfU9OQ2OrGw]